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No auge da idade, depois de vivenciar muitas experiências, que no meu caso foi próximo dos 50 anos você com certeza se pega pensando na sua vida e em suas realizações. Comigo foi assim, parei e pensei:
“Está tudo bem, eu tenho saúde graças aos meus exercícios diários na academia e minha alimentação, que é 80% saudável já que ninguém é de ferro. Meus filhos estão bem, me sinto realizada em meu trabalho, tenho um local digno para morar...”
Mas ainda assim parece que o mau do século ainda me persegue: a ansiedade. Quando percebi que a ansiedade estava presente, mesmo mediante todas as minhas realizações, resolvi dar um passo para resolver isso. Fiquei sabendo de um curso em São Paulo que é realizado durante um final de semana. Esse famoso curso trata sobre “a busca pela Atenção Plena” ou mindfulness.
Mindfulness é um estado onde treinamos nossa atenção ao momento presente e a autocompaixão com experiências desafiadoras, para aprendermos a fazer melhores escolhas em situações difíceis do nosso cotidiano.
O curso consistia em cerca de 10 pessoas reunidas em uma pequena sala, que mesmo cheia de almofadas e colchonetes nos instruíram a experimentar o chão. Antes de nos inscrever no curso pensei: “meu marido pode se sentir deslocado porque devem ter somente mulheres no curso”… Porém, na chegada veio a primeira surpresa: a nossa turma estava cheia de homens e eu era uma das poucas mulheres presentes. Todos eram profissionais realizados na carreira, mas viviam como nós, na sombra da ansiedade.
O instrutor do curso começou com a seguinte pergunta: Se alguém cobrasse 10 mil reais para retirar toda a sua ansiedade você pagaria? Foi quase unânime a resposta com a maioria dos presentes levantando suas mãos.
O instrutor se dispôs a explicar que todos nós, evolutivamente, somos descendentes de macacos estressados. Aquele macaco bonzinho que olhou para o leão e não fugiu dele não deixou descendentes. Por isso, precisamos da ansiedade em nosso dia-a-dia. Ela faz a gente se preparar para uma prova, para nos preocuparmos com o futuro. Quando estamos estressados temos reações como a liberação de adrenalina que faz com que os nossos batimentos acelerem, liberação de cortisol para preparar o nosso corpo para reagir ou fugir dos problemas.
Por causa disso em geral nossa tendência é valorizar os momentos que nossa ansiedade está alta. Uma prova disso é que se passarmos por dez lojas durante o dia e um vendedor nos maltratar em uma delas, com certeza iremos valorizar o episódio em que fomos maltratados, porque somos treinados para isso.
E cada vez que contamos essa desagradável situação para alguém tendemos a sentir tudo de ruim que sentimos quando isso ocorreu porque o nosso cérebro não consegue diferenciar a realidade da história que estamos contando com a reação orgânica do nosso corpo, com liberação de cortisol e adrenalina.
Com o mindfulness aprendemos métodos para ter controle dessa reação negativa que o nosso corpo tem em situações estressantes mantendo a harmonia corporal quando vem ao pensamento coisas ruins.
Uma das técnicas aprendiz nos ensina a se concentrar na respiração, focando na contagem das inspirações e expirações. Depois de pouco tempo, vários pensamentos que geram ansiedade chegam e assim que eles chegarem nós voltamos a nos concentrar na respiração. É como se estivéssemos vivenciando um pouco esse pensamento, porém sem ele nos trazer os efeitos ruins da ansiedade porque estamos focando na respiração.
O pensamento vai e vem, focamos na respiração, mas não tentamos explicar o porquê dos acontecimentos. No caso do vendedor da loja que nos tratou mal vários motivos podem servir como explicações para justificar o tratamento que tivemos. O que não sabemos, é que podemos associar esse episódio com um outro do passado onde nos sentimos desconsiderados, ou seja, esse episódio fica ruminando no nosso cérebro e toda vez que ele aparece nos sentimos de volta a essa loja e a esse vendedor.
Depois desse dia salvei algumas noites que seriam mal dormidas e consegui diminuir algumas acelerações do coração, procurando ter mais o controle do meu corpo. Algumas escolas já usam esse método e qualquer um pode fazer mesmo em casa.
Como a expectativa de vida está aumentando, precisamos desses tipos de recurso para ter uma maior qualidade de vida. Que venham mais 50 anos: estamos nos preparando para eles...